Conheça os principais métodos, suas vantagens e desvantagens e os benefícios do manejo da água na eficiência e sustentabilidade da produção agrícola.
Por que irrigar?
A irrigação consiste na técnica de se fornecer água às lavouras quando há limitação desse recurso de forma natural. O ciclo de pluviosidade depende da região do país e de outros efeitos naturais como o El Niño e La Niña, por exemplo.
Além disso, as práticas de manejo e conservação do solo são importantes na manutenção da água no solo e sua disponibilidade para a planta.
Por vezes, a quantidade acumulada de chuva é insuficiente para as plantas, ou sua distribuição é irregular durante a safra. Para isso, o produtor precisa lançar mão de técnicas como a irrigação para evitar que a limitação hídrica cause perdas de produtividade.
A importância da água no desenvolvimento de plantas
A água desempenha diversas funções durante o ciclo de uma planta. A seguir detalhamos as mais importantes:
- Germinação de sementes: a água faz com que a semente embeba e inicie o processo de germinação, influenciando no estande inicial e quantidade de plantas por área;
- Crescimento de plantas: os processos de crescimento celular necessitam de turgor para impulsionar o crescimento das células e da planta como um todo;
- Trocas gasosas: a abertura e fechamento estomático permitem a entrada de gás carbônico e o acúmulo de biomassa através da fotossíntese;
- Transpiração e controle da temperatura foliar: a presença de água na planta permite uma maior taxa de transpiração, permitindo o controle da temperatura foliar, mesmo em casos de aumento da temperatura do ar;
- Reações metabólicas: todos os processos metabólicos e reações enzimáticas necessitam de água para que possam acontecer;
- Carreamento de compostos químicos: a água também serve de carreador dos nutrientes do solo para a parte aérea e de açúcares da parte aérea para outras partes da planta, além do transporte de outras substâncias como hormônios e produtos fitossanitários sistêmicos;
- Florescimento e fecundação: o processo de florescimento e fecundação é extremamente dependente da água e a limitação hídrica nessas fases limita grandemente a produção;
- Acúmulo e distribuição de biomassa: o acúmulo e realocação de biomassa na planta também é influenciada pela água, seja no crescimento vegetativo ou no enchimento de grãos/frutos.
Cenário da irrigação na lavoura no Brasil
Segundo dados do Atlas Irrigação, o Brasil é o sexto país com maior área de agricultura irrigada com 8,2 milhões de hectares, com perspectiva de crescimento de mais 4,2 milhões de hectares até 2040. Isso é ainda pouco perto do potencial de área irrigável no país, que é estimado em 55 milhões de hectares.
As principais culturas irrigadas no Brasil são o arroz, a cana, o café, as culturas anuais e demais culturas. A cana em sistema fertirrigado também é contabilizada nos métodos de irrigação.
Dentre a distribuição estadual, a predominância de áreas irrigadas é maior no Sudeste, seguido pelo Sul e posteriormente pelo Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Porém, a região Centro-Oeste e Sul são as que apresentam maior potencial de expansão de área irrigável.
Métodos de irrigação
Existem diversos métodos de irrigação, com suas especificidades, vantagens e desvantagens. Abaixo citamos os mais importantes, que estão mais detalhados nesse texto.
Irrigação da lavoura por superfície
Esse método se baseia no acúmulo de água na superfície do solo, com sua distribuição através da força da gravidade. Os principais sistemas são a inundação ou sulco.
É um método de baixo custo, pouca tecnologia aplicada e fácil execução. Porém, é um método que depende muito de condições como declividade e estrutura do solo, não sendo viável para qualquer área agrícola.
Esse método aumenta o risco de erosão na área e pode apresentar distribuição de água heterogênea.
Irrigação da lavoura subterrânea
Consiste na aplicação de água para as raízes de maneira subterrânea. Isso se dá por meio da instalação de tubulações abaixo do nível do solo que permitem o controle do nível do lençol freático.
É um método que tem instalação de maior custo, maiores problemas com entupimentos e necessidade de manutenção e troca de filtros mais frequente.
Porém, a distribuição de água é bastante homogênea e o sistema pode se adequar a diversas culturas e tipos de solos. Além disso, há possibilidade de automação do sistema.
Irrigação da lavoura localizada
Os métodos de irrigação localizada são bastante utilizados, sendo os mais comuns os métodos de gotejamento ou microaspersão. Eles se baseiam na entrega de água à planta em baixos volumes e alta frequência.
Esses métodos são de maior custo e necessitam de mão de obra mais qualificada. Além disso, tem alta manutenção para evitar problemas de entupimento de tubos de distribuição.
Porém, são métodos de bastante precisão e que podem entregar água diretamente nas raízes ou na superfície do solo sem molhamento da parte aérea, diminuindo o risco de doenças.
Irrigação da lavoura por aspersão
A irrigação por aspersão é a mais comumente utilizada, principalmente pelo método de pivô central. O método de aspersão por canhões autopropelidos também é bastante utilizado.
São sistemas que se adaptam bem a diversas culturas e tipos de relevo e que simulam a chuva através de aspersão de água no sistema solo-planta.
Porém são sistemas que podem ter maior custo quando há maior necessidade tecnológica. Outra desvantagem é que o molhamento da parte aérea aumenta a possibilidade de incidência de doenças.
Fertirrigação
A fertirrigação é um método bastante utilizado na cultura da cana e hortaliças. Ela consiste na adição de fertilizantes à água de irrigação e pode ser adequada e diversos métodos, principalmente na irrigação por gotejamento.
Benefícios da irrigação
Os principais benefícios do uso de irrigação são:
- Aumento da produtividade: as áreas irrigadas apresentam um aumento de duas a três vezes em relação a áreas de sequeiro;
- Redução de riscos climáticos: o controle da distribuição de água diminui as perdas por estresses hídricos e aumenta a segurança produtiva;
- Flexibilidade de produção: a possibilidade de utilização do solo durante grande parte do ano, com potencial de até três safras;
- Aumento da renda do produtor: a diminuição do risco e o aumento da produtividade dão maior possibilidade de renda ao produtor;
- Diversificação de culturas: há possibilidade de se utilizar culturas com maior demanda hídrica em áreas com pluviosidade natural menor que o necessário;
- Aumento tecnológico: a inserção de sistemas de irrigação pode trazer consigo outras tecnologias, profissionalizando a agricultura;
- Aumento da segurança alimentar: maior oferta de alimentos de modo regional e ao longo do ano de produtos agrícolas.
Escolha de método de irrigação e tomadas de decisão
A escolha dos métodos de irrigação deve levar em conta alguns fatores importantes em termos de condições climáticas, de solo, da propriedade e da capacidade técnica e de investimento do produtor.
- Cultura agrícola: as culturas a serem utilizadas são determinantes para o tipo de irrigação, principalmente no que diz respeito a seu porte e profundidade de raiz, espaçamento, demanda hídrica e ciclo anual ou perene;
- Tipo de solo e declividade: o tipo de solo, sua estrutura e capacidade de retenção de água, a altura do lençol freático e a declividade podem ser limitantes para alguns tipos de sistemas de irrigação;
- Disponibilidade hídrica na região: conhecer o ciclo de chuvas na região, bem como a capacidade de armazenamento de água é importante para se definir o potencial de irrigação;
- Capacidade técnica e financeira: alguns sistemas de irrigação necessitam de maior investimento e de maior nível técnico de funcionários da propriedade, podendo influenciar no método a ser usado.
Considerações finais
A irrigação é uma ferramenta importante para aumento da produtividade e diminuição dos riscos climáticos na agricultura. Em uma realidade de cenários climáticos cada vez mais desafiadores com aumento de temperatura e irregularidade de chuvas, a irrigação tem ainda maior potencial.
O Brasil tem grande potencial de uso e expansão da agricultura irrigada e por isso é importante que tenhamos cada vez mais conhecimento sobre os sistemas disponíveis, suas especificidades, implementação e uso.
Isso permite uma melhor tomada de decisão sobre qual sistema usar, melhor técnica em sua execução e mais eficiência na produção agrícola e no uso de água.